
O Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH) da UFRJ e o Programa de Pós-graduação de Políticas Públicas em Direitos Humanos (PPDH) realizam, nesta quarta, dia 21/5, o debate “Racismo religioso x Políticas de diversidade: onde estamos nessa luta?”.
O evento contará com as participações de Ivanir dos Santos, babalorixá, professor e pós-doutor em História Comparada pelo Programa de Pós-graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ; Marcelo Natividade, antropólogo, artivista e professor do Nepp-DH/UFRJ; e Tauã Satyro, pesquisador do PPDH/Nepp-DH/UFRJ. A mediação ficará a cargo do professor Sérgio Luís Baptista da Silva, professor da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ.
“A religião está na ordem do dia. E a Universidade deve levantar debates acerca de sua força na vida social brasileira. Nossas disciplinas que abordam essa temática despertam enorme interesse de alunos de vários cursos, seja pelo desejo de compreender as mudanças nas suas normas seja por questões ligadas às suas pertenças religiosas e trajetórias pessoais”, explica Natividade.
O encontro faz parte de uma agenda conjunta colaborativa de três distintos projetos de extensão da UFRJ, “Encontros em Religião, diversidades e direitos humanos”, coordenado por Natividade (NEPP-DH) e “Diálogos em Religião, política pública e direitos humanos”, coordenado pelo professor Sérgio Baptista (FE) e integra ainda o ciclo de debates “Religião, direitos e políticas em perspectiva” (NEPP-DH). Conta com apoio da Comissão de laicidade e democracia da Associação Brasileira de Antropologia (CLD-ABA), do Projeto Artivismos e do Programa de Pós-graduação em políticas públicas em Direitos Humanos (PPDH-NEPP-DH/UFRJ).
Serviço
Data: 21 de maio de 2025
Horário: das 18h30 às 20h30
Local: Auditório no Nepp-DH/UFRJ (Anexo do CFCH/UFRJ)
Endereço: Avenida Venceslau Brás, 71, Botafogo.
Evento grátis com certificação
Realização de inscrições.
Saiba mais
Em maio de 2024 um fato chamou a atenção das mídias: a Ialorixá Mãe Iara de Oxum sofreu racismo religioso em um salão de beleza em shopping de Salvador, quando uma funcionária se recusou a atendê-la, em ato de explícito preconceito religioso: “Eu que não atendo esse povo”. Olhando com desprezo suas vestimentas do santo, virou-lhe as costas. Nenhuma outra pessoa se prontificou a prestar o serviço, restando-lhe se retirar da loja, envergonhada.
O fato redundou em boletim de ocorrência em Delegacia de crimes raciais (12ª DP, em Itapuã) e em posterior atendimento em outras entidades locais: a Coordenação Especializada de Repressão aos crimes de Intolerância e discriminação (Coercid) da Polícia Civil e o Centro de Referência de Combate ao Racismo e intolerância religiosa Nelson Mandela. Como protesto, o povo de santo organizou um xirê (uma dança para os orixás) na frente da loja em outra ocasião, informou O Portal Correio de 25 de maio do mesmo ano.
Por esse e outros casos similares, o debate “Racismo religioso x Políticas de diversidade: onde estamos nessa luta?” interessa como exemplar dos ataques que crescem no Brasil às religiões da matriz africana e outras minorias religiosas e sugere o poder das religiões hegemônicas em classificar e excluir pessoas, com base na suposta universalidade e superioridade de suas visões de mundo. E como fica o Estado e a proteção dessas populações humilhadas e violadas quando o assunto é a liberdade religiosa?
Segundo o Instituto Superior de Estudos da Religião, os dados do Censo de 2022, apontaram a presença institucional da religião no Brasil comparativamente a estabelecimentos de ensino e de saúde (597,7 mil estabelecimentos religiosos, 264,4 mil de ensino e 247,5 mil de saúde) e acenderam um alerta nos pesquisadores sobre a importância de levantar mais debates sobre religião e sociedade brasileira, como uma forma de compreensão dos desafios no campo da política pública e dos direitos.
A mesa, então, se dirige mais especificamente a problematizar as relações entre Estado e liberdade religiosa buscando um diagnóstico dos problemas e questões emergentes. Ela apresenta resultados de pesquisa em diferentes contextos sobre o exercício da liberdade religiosa e o poder do Estado: questiona e coloca a prova a efetividade da laicidade brasileira, demonstra como esses acontecimentos estão presentes em nossos cotidianos e abre possibilidades de pensar diálogos, interlocuções e refletir sobre as respostas positivas de diferentes contextos na proposição de políticas de diversidade religiosa.
“Queremos abrir leituras possíveis sobre a atuação dos movimentos para a transformação de quadros de violação, desrespeito e desconsideração”, sugere Natividade, integrante da mesa. “Por este motivo esperamos, então, receber e convidamos os movimentos sociais, o povo dos terreiros e todas as pessoas interessadas em promover a justiça social, a democracia e a liberdade religiosa para essa conversa”, completa o professor Sérgio Baptista.