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7 anos sem Marielle e Anderson

Em 14 de março de 2025, completam-se sete anos do brutal assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, assassinos confessos, foram condenados a 78 anos e 9 meses e 59 anos e 8 meses, respectivamente. Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, apontados como mandantes, estão presos preventivamente e aguardam julgamento.

Foram mais de seis anos até que as investigações apontassem a resolução do crime, o que ocorreu em março de 2024, quando se deu a prisão dos mandantes. O caso ganhou repercussão internacional pela brutalidade e, também, pela demora em ser concluído. Marielle exercia o cargo de vereadora da cidade do Rio de Janeiro e o crime ocorreu em uma via pública. Na ocasião, o estado passava por intervenção federal na segurança pública, sob o comando do general Walter Braga Netto, que viria a ser ministro de Jair Bolsonaro e seu candidato a vice-presidente da República, em 2022.

Para a professora Cristiane Brandão, do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Direitos Humanos (PPDH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o caso leva à discussão sobre a politização do feminicídio:

“Essa violência feminicida cobrou – e segue cobrando – posicionamentos contra a dominação patriarcal e racista na subordinação do corpo-território da mulher e, especialmente, de uma mulher negra, da Maré, vereadora e liderança na luta pelos direitos humanos”, analisa a docente.

Brandão menciona o aumento dos índices desse tipo de crime no ano de 2024, verificados por recente pesquisa do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ). De acordo com o levantamento, 107 mulheres foram assassinadas no último ano, o que representa o aumento de 8% em relação a 2023, quando foram registrados 99 feminicídios no estado. Ainda de acordo com as estatísticas, houve 382 tentativas em 2024, significando um aumento de 24% em comparação ao ano anterior. A cidade do Rio foi a que mais registrou casos no estado, com 54 ocorrências, seguida de Belford Roxo, com nove, Duque de Caxias, com sete, Campos dos Goytacazes, com cinco, e Maricá, com quatro.

Clique aqui para acessar a pesquisa.

“A América Latina é uma das regiões mais perigosas na proteção a mulheres em situação de vulnerabilidade social e histórica. O Brasil é um dos países que mais mata defensores e defensoras de nossos direitos”, analisa a professora do PPDH/UFRJ.

“Recordar essa data é atualizar o registro no campo da memória, da verdade e da justiça, apontando para a necessidade de se aprofundar as reflexões racializadas e generificadas sobre as variadas opressões e a construção de políticas públicas que enfrentem a violência feminicida”, acrescenta Brandão a respeito do dia 14 de março.

Para Erika Carvalho, assistente social do Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa (CRMM-CR), vinculado ao Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH) da UFRJ, Marielle Franco representa, citando a escritora, filósofa, poetisa e ativista estadunidense Audre Lorde, “a afirmação da força vital das mulheres, da energia criativa, cujo conhecimento e aplicação reivindicamos em nossa linguagem, nossa história, nossa dança, nossos amores, nosso trabalho, nossas vidas”.

Diante dos altos índices de feminicídios, Carvalho só tem um desejo: “Que neste dia 14, nós, mulheres negras, possamos nos lembrar da força vital de Marielle para continuar criando estratégias de resistência contra a violência machista, racista, misógina e patriarcal que sofremos secularmente”.